segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Apenas una estátua




Apenas uma estátua


Certa vez Tan-hsia, monge da dinastia Tang, fez uma parada em Yerinji, na Capital, cansado e com muito frio. Como era impossível conseguir abrigo e fogo, e como era evidente que não sobreviveria à noite, retirou em um antigo templo uma das imagens de madeira entronizadas de Buddha, rachou-a e preparou com ela uma fogueira, assim aquecendo-se.
O monge guardião de um templo mais novo próximo, ao chegar ao local de manhã e ver o que tinha acontecido, ficou estarrecido e exclamou:
"Como ousais queimar a sagrada imagem de Buddha?!?"
Tan-hsia olhou-o e depois começou a mexer nas cinzas, como se procurasse por algo, dizendo:
"Estou recolhendo as Sariras (*) de Buddha..."
"Mas," disse o guardião confuso "este é um pedaço de madeira! Como podes encontrar Sariras em um objeto de madeira?"
"Nesse caso," retorquiu o outro "sendo apenas uma estátua de madeira, posso queimar as duas outras imagens restantes?"
(*) Sariras - tais objetos são depósitos minerais - como pequenas pedras - que sobram de alguns corpos cremados, e que segundo a tradição foram encontrados após a cremação do corpo de Gautama Buddha, sendo considerados objetos sagrados.
Koan: Em que parte de um objeto fica o reverenciado Sagrado?

O Monge Indiferente




O Monge Indiferente


Uma velha construiu uma cabana para um monge e o alimentou por vinte anos, como forma de adquirir méritos.
Certo dia, como forma de experimentar a sabedoria adquirida pelo monge, a velha pediu à jovem mulher que levava ao monge o alimento todos os dias (já que a velha senhora não podia mais fazer o caminho com freqüência) que o abraçasse.
Ao chegar à cabana, a menina encontrou o monge em zazen. Ela abraçou-o e perguntou-lhe se gostava dela. O monge, frio e indiferente, disse de forma dura:
"É como se uma árvore seca estivesse abraçada a uma fria rocha. Está tão frio como o mais rigoroso inverno, não sinto nenhum calor."
A jovem retornou, e disse o que o monge fez. A velha, irritadíssima, foi até lá, expulsou o monge e queimou a cabana. Enquanto ele se afastava, ela gritou:
"E eu, que passei vinte anos sustentando um idiota!"

domingo, 1 de agosto de 2010

ENCONTRO ENTRE CONFÚCIO E LAO TSÉ




ENCONTRO ENTRE CONFÚCIO E LAO TSÉ (segundo Chen sien Tchoan )

Lao Tsé, sábio ilustre, morava às margens do Rio Lo. Sua doutrina, “Tao to tsing”( Laço das Virtudes e do Método),
Parecia estranha e era incomprendida pelo povo. Por esta rezão, o soberano do Estado de Lu decidiu solicitar o concurso de Confúcio, que deveria procurar “o Velho”(assim era o apelido que tinha, devido ao fato de seus cabelos serem brancos desde a juventude) e dele receber conselhos e, se possível, alguns dos segredos que tornavam mais poderosos os membros da dinastia Chou.
Li Tan, nome verdadeiro de Lao Tsé, abandonara a convivência dos homens havia muito tempo e refugiara-se nas montanhas, vivendo em solidão. Tinha na ocasão cerca de setenta anos de idade e morava numa choupana de madeira nas proximidades do Rio Lo.
Levando presentes e companheiros, Confúcio, depois de longa viagem, chegou ao bosque em que residia “o Velho”.
Para maior fidelidade, transcreve-se aqui a íntegra de uma das versões da entrevista. Todas têm o mesmo sentido embora nem todas usem as mesmas palavras.
Confúcio: - Meus olhos estão turvos e não posso confiar-me neles. Vejo-te como uma árvore seca, abandonada de todos e a viver solitária”.
Lao Tsé: - “Sim; abandono meu corpo enquanto viajo sem parar pelas origens das coisas. Mas que desejas?”.
Confúcio:- “Venho em busca de uma doutrina que possa melhorar a sorte dos seres humanos; um método para instruí-los e transformá-los.
“” O Velho”sorriu e adjuntou:
Os animais que se alimentam de ervas procuram por acaso melhorá-las? Os seres que vivem na água se preocupam em que ela seja melhor? E falas-me em melhorar os seres humanos.
“- Ëles sofrem e eu quería fazê-los felizes.
“- “Se a alegria e os pesares, se o descontentamento e a satisfação não perturbassem o espírito dos homens, estes se pareceriam então com o universo. A fronteira entre a felicidade e a desgraça desapareceria. Quando os homens compreenderem que o seu bem maior é serem semelhantes a todos osoutros seres vivos serão felizes e não poderão perder esse bem : transformar-se-ão sem procurar fixar-se.”
Confúcio objetou :
-“Por tua virtude, unirias Céu e Terra. Mas a palavra, pela qual se modifica o espírito, e a nós transmitida pelos sábios antigos, é possível despojar-nos dela?.
“Quando se trata do homem, com efeito, há que considerar que sua carne e seus ossos perecerão e se dissolverão, ao passo que suas palavras podem ser transmitidas enquanto existerem seres humanos.
“Lao Tsë refletiu e continuou :
“-Mas sem desembaraçar-nos da palavra, basta praticar o Não-Agir para que nossos verdadeiros talentos por si mesmos se revelem. Se o homem jamais procurasse modificar as coisas, estas não se alterarian por si mesmas; a terra é compacta por sua própia natureza; o sol e a lua, que brilham por si, pretendes modificá-los também?
Ë acrecentou :
- “Para conservar-se branca, a cegonha não precisa lavar-se;
nem o corvo, tingirse de negro. Por que os homens teriam necessidade de estudar e inventar para penosamente modificar-se? De que lhes serviria isto? . Seria o mesmo que tocar o tambor para fazer ressuscitar um carneiro.
“Lao Tsé mudou o asunto e perguntou a Confúcio quais as tradições que estudara.
Respondendo que havia dedicado horas ao estudo de “ I tsing “ e o “Laço das Mutações”, que ancestrais sagrados haviam estudado, Lao Tsé afirmou:
“Esses princípios são a Eqüidade e a Reciprocidade, admiráveis regras sem dúvida.
“_ “Carto. Em minha opinião, porém, esses princípios, não são admiráveis. Do mesmo modo que os mosquitos, que durante a noite não nos deixam dormir e nos picam, Eqüidade e Reciprocidade não servem senão para conturbar e irritar o coração do homem. Com esses princípios, transtorna-se o caráter do povo, eis tudo. Não se mudará em nada o seu infortúnio.
“Indagou, Lao tsé, se Confúcio havia elaborado alguma doutrina e este declarou :
- “Desde os vinte e sete anos estou em busca de uma e ainda a não encontrei.
” O Velho “ disse então :
- “Vou dar-te quatro que são universalmente seguidas. A primeira : deixar-se tomar, e os homens deixam tomar-se; é a doutrina que os senhores ensinan. A segunda ordena deixar-se importunar e todos os homens deixam importunar-se; é a doutrina ensinada pela famiília. A terceira manda acusar-se mutuamente e brigar uns com os outros, e todos os homens acusam-se uns aos outros; é a doutrina da fraternidade. Finalmente, a quarta determina trabalhar sem proveito para transmitir uma instrução vã e transmite a instrução; é a doutrina dos letrados. Não se pode delas escapar nem encontrar outras.
“- “Apesar disto, os sábios elaboraram doutrinas e tu mesmo”...
Interrompeu-lo Lao Tsé :
-“Quando um Sábio chega ao momento de triunfar, ele trinfa. Atê que le surga a ocasião, permanece sem influência. Da mesma maneira que a melhor semente, quando ainda não germinou, fica escondida debaixo da terra que parece nua.
“Levantando-se cortesmente para companhar o visitante, “o Velho” finalizou :
“- Sempre ouço dizer que as pessoas ricas ou poderosas ao despedir-se dos hóspedes lhes oferecem objetos de valor; aquelas que têm apenas ciência proferem palavras preciosas. Não sou rico nem poderoso e robaria o renome de sábio. Não obstante, posso dizer-te isto : os homens inteligentes, os dotados de visão profunda das coisas, e mesmo aqueles que se avizinham do fim da vida gostam de criticar tudo e todos. Desse modo, porém, colocam em perigo o próprio corpo e atraem sobre si o ócio dos demais. Nada ganha o Sábio que se mistura no meio dos homens, mas pode tudo perder o ministro que o faz.
“Confúcio despidiu-se e partiu para Lu, na manhã seguinte e durante três dias não disse palavra. Intrigado com o prolongado silêncio cheio de meditação, um discípulo dirigiu-se com perguntas ao Mestre. E ele ripostou :
- “Acabo de ver um homem que alça a grandes alturas os seus pensamentos, que mais se assemelham ao voar de pássaros no azul. De minha parte, gosto de lançar os meus, um a um, como dardos de alabarda, sem errar jamais o alvo. Gosto que meus pensamentos fiéis sigam um caminho sempre rasteado e alcancem sempre a presa. Acabo de ver um homem cujas idéias sào tão misteriosas e innacessíveis como um abismo. Gosto que minhas idéias possam ser pescadas na ponta de uma linha e satisfaçam. Dos pássaros, sei que podem voar: é o que os distingue. Os peixes, sei, podem nadar; os quadrúpedes , galopar. Mas, sei também que posso pegar com uma armadilha o que galopa; com rede o que nada e, com flechas, o que voa. Com referência aos dragões, se eles voam com a tempestade ou cavalgam as nuvens na imensa pureza do céu. Vi Lao Tsé como quem contempla um dragão. O queixo caiu-me e não pude respirar. Meu espírito, extraviado, não sabia onde pousar.
Ässim finaliza o episodio do encontro de Confúcio e Lao Tsé.